Apresentação do Livro "Medicina que Cura Medicina que Adoece"
“Medicina que Cura Medicina que Adoece – Caminhos para a reforma da medicina” de HG Eberhardt, 2009
“São as forças naturais dentro de nós que realmente curam a doença.”
Hipócrates (460-377 aC)
“Quem cura tem razão”
Paracelsus (1493-1541)
Os leitores de língua portuguesa têm agora a oportunidade de conhecer o pensamento e a prática do Dr Hans-Georg. Eberhardt um seguidor da tradição médica empírica alemã, que resiste aos dogmas da medicina acadêmica e oficial. No início, para se contrapor ao dogma químico da medicina acadêmica, essa tradição ficou conhecida como medicina biológica. Mais adiante, essa denominação foi substituída por medicina subsidiária, medicina integral ou medicina de suporte à vida, pois salienta os processos que suportam a vida no organismo.
O autor alia cultura, experiência, coragem e a arma persuasiva mais poderosa que um médico deveria usar – o resultado terapêutico. Porém, como o próprio Dr Eberhardt o afirma, por mais paradoxal que o possa parecer a medicina e a cultura médicas contemporâneas não estão orientadas pelo resultado, mas por um discurso racionalista de validação, centrado num modo particular de apropriação dos chamados estudos duplos cegos, aleatórios.
A produção do conhecimento que nasce da experiência, dos resultados do médico no seu dia-a-dia, ou mesmo do relato do paciente - que são parte do modelo empírico - não é aceita pela “ciência médica”. Repete-se, aqui, a máxima, das ciências clássicas, de que sobre o fato individual não se pode falar. Ora, como não falar do indivíduo como objeto de conhecimento da medicina? O grande desafio de uma medicina avançada deveria ser o conhecimento da complexidade única do indivíduo, e não a generalização e a simplificação do adoecimento humano, realizado pela medicina acadêmica, através do diagnóstico da doença como entidade específica - medicina centrada na doença.
O Dr Eberhardt desenvolve e atualiza a tradição da escola de Herborn, fundada no inicio do Século XX, que se dedicou a estudar em profundidade o impacto da microflora humana na saúde e no adoecimento. As pérolas construídas ao longo de quase 80 anos nos são oferecidas e atualizadas pelas experiência e sensibilidade de um expert na arte de curar. Para os poucos médicos que ainda se dedicam à cura, esses ensinamentos têm grande impacto, e emocionam. É impossível ficar indiferente ao que o autor nos comunica.
A crítica ao pensamento da medicina oficial - que o autor chama de “erros coletivos do pensamento” é arrasadora. Não fica pedra sobre pedra. Não se pode mais tapar o sol com a peneira. As teorias e concepções que sustentam medicina acadêmica, teorias e concepções oriundas do pensamento mecanicista, são hoje, insustentáveis, pois não conseguem dar conta da nosologia moderna. Assim, o assombroso crescimento das chamadas doenças idiopáticas na cena médica atual não se dá por acaso.
O autor nos chama a atenção para percebermos que o organismo é um sistema dinâmico, com alta capacidade de compensação, que põe em prática seus programas ancestrais de regulação e adaptação. Programas esses que são leis da natureza, ou, como o dizia Paracelsus, leis de Deus.
Dentre os processos básicos de mobilização para a cura talvez o mais fundamental seja o da inflamação. Através da inflamação, o organismo dispara o processo de ativação tecidual, que gera, inicialmente, instabilidade, para, numa segunda fase, estabelecer a ordem. A medicina oficial, no entanto, não pode ouvir falar de inflamação e a inibe de todos os lados e formas. O resultado é fácil de prever – o bloqueio, a cronificação.
Segundo o autor, esse livro, ou quase uma brochura, foi escrito primordialmente para seus clientes e com o objetivo de facilitar-lhe a prática no consultório. Não é fácil desfazer uma cultura médica baseada na supressão dos sintomas, no silêncio forçado do organismo, e restabelecer o respeito às vias da natureza medicatrix. É preciso um trabalho doutrinário persistente, que, infelizmente, na maioria dos casos, só encontra eco no paciente que já pagou um alto preço pelas terapias de bloqueios e se encontra num beco sem saída.
Em termos de terapêutica de supressão dos sintomas, o autor condena, veementemente, o uso irresponsável dos antibióticos. Para ele, o antibiótico é a substância mais poderosa de que o médico dispõe para produzir doenças. O erro da medicina acadêmica de fixar a sua doutrina no agente patogênico (teoria do germe, agente específico, monomorfismo), e sua terapêutica de combate tóxico ao agente (antibiose), trouxe um risco sem precedentes para o processo de simbiose que mantém a vida e a saúde.
A medicina acadêmica, mecanicista, se nega a admitir as conseqüências, a longo prazo, do comprometimento da microecologia intestinal.
O leitor leigo deve estar a se perguntar como os médicos não percebem isso. A resposta está contida num dos chamados “erros coletivos do pensamento médico”. Qual seja, o de considerar o organismo vivo como um sistema linear e fechado, que responderia segundo o modelo de ação-reação. Assim, qualquer ação sobre o organismo deveria suscitar uma reação imediata, e se soubermos a ação inicial, poderemos prever a reação. Vê-se aqui claramente a influência do pensamento mecanicista de Newton.
Ora, o organismo está longe de ser esse sistema pensado pelo mecanicismo. Pois o organismo é um sistema aberto, complexo e não linear, e tem alta capacidade de compensação. As conseqüências de uma ação podem aparecer décadas mais tarde e são imprevisíveis. Abordar um sistema complexo e não-linear como se fosse um sistema linear e fechado, assim o fazem a medicina acadêmica e a biologia mecanicista. De acordo com Thomas - um destacado pesquisador de sistemas biológicos - “...aquele que tenta aplicar uma cadeia causal unidimensional para um sistema interconectado não pode reivindicar ser científico”.
Quem cura é o organismo, a Natureza. É muito difícil ou impossível, a medicina acadêmica aceitar esse preceito. Pois essa medicina nasceu justamente da negação desse princípio, ao aderir à química estranha ao organismo. E através dessa química consegue impor a lógica supressiva das dinâmicas reativas do organismo, como se essas dinâmicas, expressas nos sintomas, fossem a própria doença, a voz da lesão. Esse grave erro do pensamento induz médicos e clientes a adotarem a conduta simplista de supressão dos sintomas, como se eles em si fossem o mal. Chegamos mesmo a produzir uma intolerância cultural aos sintomas. Ao primeiro aparecimento do sintoma tentamos imediatamente suprimí-lo. Convidar o cliente para “aceitar” o sintoma e entender que se deve atuar no suporte ao organismo é algo que está completamente fora da agenda da medicina acadêmica.
Não devemos esperar mudanças na medicina acadêmica. Ela funciona como uma Ordem movida por interesses institucionais, consolidados, extremamente difíceis de serem abalados. Com o seu enorme guarda-chuva enquadra e protege os seguidores fiéis. Mas, para os infiéis, chamados pelo Dr Eberhardt de outsiders, estão reservadas várias restrições, desde o impedimento de uma determinada prática até a prisão. Claro que para esse ultimo desfecho depende dos tribunais.
No Brasil, o Estado se omite, não tem agilidade ou interesse para avaliar as verdadeiras inovações na prática terapêutica, e depende, completamente, do órgão corporativo máximo dos médicos - o CFM (Conselho Federal de Medicina). Na prática, quem legisla sobre a prática médica é o CFM e não o Ministério da Saúde, nem a sua agência reguladora (ANVISA) que aceitam ad referendum todas as decisões do CFM.
Os médicos inovadores, que buscam outros recursos terapêuticos, vivem numa zona cinzenta, onde não existe reconhecimento institucional. E tal reconhecimento não tem como ocorrer se os médicos não iniciarem suas experiências, construírem um background, se organizarem e pedirem a institucionalização dessa nova terapêutica.
Isso é justamente o que vem ocorrendo, hoje, com a ozonioterapia no Brasil. Os médicos que usam essa terapêutica se tornam mais que simples praticantes. Tornam-se entusiastas, pois os resultados da ozonioterapia são evidentes e excitantes. Entre esses entusiastas se encontra o Dr Eberhardt, que não consegue pensar a medicina do futuro sem a ozonioterapia. Ele a praticou por 35 anos ininterruptos, conseguindo a cura verdadeira de doenças consideradas incuráveis (retocolite ulcerativa, doença de Crohn, neurodermatite, etc.).
O pensamento oficial impõe à nova terapia aquilo que ela não segue. Temos o exemplo recente da auto-hemoterapia, um método com mais de 100 anos de uso pela medicina. Pois bem, um conselheiro do CFM que nunca estudou, pesquisou ou teve experiência clinica com essa terapia, simplesmente consultou um banco de dados de publicações da medicina oficial e deu parecer que levou à proibição dos médicos de usarem esse recurso terapêutico, considerando-o um método ineficaz. Se usarmos o princípio da reciprocidade, o nobre conselheiro deveria também negar aprovação para 85% da pratica médica da medicina oficial. Em editorial a revista inglesa British Medical Journal, de 5 de outubro de 91, revela que 85% de todos os procedimentos médicos, incluindo cirurgias, não têm suporte em evidências científicas sólidas. O mesmo foi dito pela comissão de assessoramento em saúde do senado dos EUA (OTA).*
A busca de informação sobre saúde tem sido intensa por parte da população. Mas, infelizmente, a informação é passada de forma fragmentada e não contribui para a formação de uma consciência profunda, consciência que nos permita ter uma atitude de reverência em relação ao organismo e à natureza, e entender os interesses em jogo que impedem avanços e as inovações reais na medicina.
Não estamos falando de demandas utópicas. Desejamos simplesmente, que as pessoas tomem em suas mãos a responsabilidade pela sua saúde. A passividade fortalece o modelo dominante, modelo esse magistralmente analisado pelo autor do livro que ora apresentamos.
Eduardo Almeida & Maria Emilia Gadelha, Outono de 2009.
* Office of Technology Assessment, U.S. Congress, Assessing Efficacy and Safety of Medical Technology (Washington D.C.: OTA 1978)
Tunis SR, Gelband H, Health Care Technology and Its Assessment in Eight Countries. Health Care Technology in the United States. Office of Technology Assessment (OTA) 1995.
Smith, R.. Editor: Where is the wisdom…? The poverty of medical evidence. BMJ, Vol 303, 798-799, 5 October, 1991
Índice
Capítulo I
Sobre a crise de identidade na medicina . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
Capítulo II
O paciente entre a medicina acadêmica e os métodos
extra-acadêmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
Capítulo III
A medicina hoje – um apanhado geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
Capítulo IV
O protesto público . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Capítulo V
O erro coletivo e suas raízes históricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Capítulo VI
O que é doença? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Capítulo VII
Onde acontece a doença? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Capítulo VIII
O princípio da subsidiariedade como inovação médica . . . . . . . . 79
Capítulo IX
A cinética da desvitalização e a dinâmica da revitalização . . . . . . 83
Capítulo X
O lado avesso do uso dos antibióticos e suas consequências . . . . 91
Capítulo XI
A eficácia da ozonioterapia no combate às infecções . . . . . . . . . . 99
Capítulo XII
A ozonioterapia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
Capítulo XIII
A mobilização do sistema imunológico do intestino pelo ozônio.111
Capítulo XIV
A reposição de vitaminas e minerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .117
Capítulo XV
A eletroacupuntura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .123
Capítulo XVI
A medicina no tribunal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
Capítulo XVII
As conseqüências da reforma, na prática . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
Capítulo XVIII
A eficiência da imunomodulação combinada com ozônio, na
neurodermatite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .137
Capítulo XIX
Sobre o tratamento da afecção focal (foco) . . . . . . . . . . . . . . . .147
Capítulo XX
Casuística: Colite / doença de Crohn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .151
Capítulo XXI
Sobre os temas Câncer e AIDS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .167