A Obesidade Além da Estética A Manipulação de um Desequilíbrio

A obesidade é talvez o desequilíbrio orgânico mais manipulado pela medicina e demais abordagens. Cada um vê apenas um aspecto do problema e se esquece, ou não tem recursos, para ver o problema de uma forma mais ampla.

Os endocrinologistas acabaram tomando para si o tema, e a obesidade passou a ser um problema dessa especialidade, apesar da pouca participação (5%) das sindromes endócrinas na gênese da obesidade.

Ao lermos os livros da moda sobre a obesidade, todos escritos por médicos e ou nutricionistas, ficamos ainda mais confusos. Uns preconizam a dieta rica em proteinas. Outros a dieta pobre em gordura e rica em carbohidratos, outros dieta pobre em carbohidratos.

Em suma, as receitas não coincidem e, além disso, se opõem. Quando isso ocorre em medicina, dizemos ser um sinal da falta de conhecimento sobre o tema. No caso da obesidade, não se quer dizer que não haja conhecimento importante produzido no campo do metabolismo humano. Na minha opinião, falta à corrente hegemônica conhecimento clínico sistematizado para abordar o grave desequilíbrio orgânico presente na obesidade. Na verdade, aqui, como na medicina em geral, prevalece a abordagem simplificadora da medicina das drogas, que busca demonstrar um determinado mecanismo causal (monocausalidade).

O processo de ganho de pesso não pode ser visto apenas como um aumento do tecido adiposo, mas como uma mudança global, e muitas vezes radical em todo organismo. Esse processo quase sempre significa uma severa sobrecarga para todo o sistema neuroimunoendócrino, para o sistema digestivo, sistema linfático, cardiocirculatório, para órgãos como fígado e rim entre outros. Na visão de Ali a obesidade se caracteriza por uma disfunção catabólica, devido ao bloqueio oxidativo de enzimas fundamentais ao catabolismo, em especial ao nivel dos adipócitos e miócitos. Nessa perspectiva, não seria a quantidade calórica que levaria à obesidade, mas a quantidade de alimentos oxidantes ingeridos e o consequente bloqueio oxidativo produzido. A sobrecarga oxidativa vinda da ingestão de alimentos oxidados (industrializados), toxinas ambientais (pesticidas, agrotóxicos, aditivos quimicos) e do processo alérgico/intolerância alimentar, geralmente delineiam o perfil da toxicidade orgânica na obesidade.

A conjugação de todos esses fatores levam o organismo a um novo padrão funcional global, com manifestações claras de sobrecarga para o conjunto do organismo. Daí a necessidade de uma abordagem que vá além da simples restrição dietética, ou melhor, não se trata obesidade com restrição dietética, mas com nutrição adequada, pois a obesidade é a manifestação da má nutrição, se pensarmos em termos energético-molecular.

Passo em seguida a fazer considerações sobre pontos que considero fundamentais sobre uma abordagem complexa da obesidade:

Restrição dietética - Considero a restrição calórica um importante risco ao organismo intoxicado do obeso. Quando se perde peso por este método, geralmente o é às custas de perda de massa muscular e de água, com grandes possibilidades de ganho futuro (efeito sanfona). O mais importante é se preocupar com a qualidade dos alimentos e não com o valor calórico. Alimentos naturais não oxidados ao invés de alimentos oxidados (processados industrialmente). Por exemplo, os refinados (açúcar e farinha de trigo) são grandes oxidantes e acidificantes, mantêm altos niveis de insulina circulante, e por isso são muito mais prejudiciais do que os carbohidratos complexos dos legumes e frutas.

Ou seja, deveria haver uma mudança qualitativa da dietética, sem as grandes privações, para se obter uma perda lenta e progressiva de peso.

Função tireoidiana - A tireoide junto com o pâncreas são as duas glândulas mais sobrecarregadas no processo da obesidade. Com grande frequência, apesar da dosagem sérica dos hormônios tiroidianos estarem normal, temos os quadros de resistência periférica ao hormônio tiroidiano, como acontece com a insulina no diabetes tipo II. Nesses casos, está indicado estímulo tiroidiano e ou suplementação hormonal.

Sobrecarga do sistema digestivo - a compulsão alimentar submete o sistema digestivo a uma grande sobrecarga, que quase sempre leva à insuficiência digestiva e aos quadros de má digestão, sinalizado pelo abdomen volumoso (veja a informação Barriga Grande e Prosperidade, neste site). Cem por cento dos obesos têm má digestão, apesar de não passarem mal quando comem. A má digestão leva à auto-intoxicação, sobrecarga do sistema linfático abdominal, alteração da flora intestinal (disbiose) e à sobrecarga dos rins.

Pâncreas - órgão central do processo digestivo e metabólico, extremamente sobrecarregado e, geralmente insuficiente no obeso. O deficit da função exócrina do pâncreas leva à má digestão. A sobrecarga da função endócrina (insulina e glucagon) talvez seja o processo central do mecanismo de acúmulo de gordura. Num primeiro momento, o pâncreas reage com liberação excessiva de insulina, podendo levar a quadros de hipoglicemia, mais adiante tende a entrar em exaustão quando manifesta o quadro de diabetes tipo II.

Fígado - é um orgão extremamente sobrecarregado pelo excesso dietético. O acúmulo de gordura no órgão (esteatose hepática) é bastante frequente e compromete seriamente as funções vitais deste órgão. Como se sabe, o fígado além do grande centro de síntese metabólica, é o grande órgão do processo de desentoxicação orgânica. O organismo do obeso, exposto às sobrecargas alimentares tóxicas, não costuma ter o sistema hepático detoxicador funcionante, levando a quadros severos de intoxicação. O próprio processo de intoxicação costuma ser uma grande barreira à terapêutica da obesidade, pois o organismo intoxicado reage fortemente quando se tenta promover alterações, à semelhança do que ocorre nos dependentes químicos. As restrições calóricas severas, que levam a uma brusca mobilização dos estoques de gorduras e, consequentemente da carga tóxica junto armazenada, podem produzir quadros de retoxicação severos e devem ser evitados. A retenção de gases e fezes e a disbiose consequentes à má digestão sobrecarregam o fígado com mais carga tóxica. Em suma, o estímulo drenador hepático deve fazer parte de todo protocolo terapêutico da obesidade.

Deficits nutricionais - a sobrecarga metabólica promovida pelo excesso alimentar leva a grandes consumos de nutrientes (vitaminas, micronutientes e elementos traços). O deficit está quase sempre presente e deve ser corrigido. Os mais importantes são os das vitaminas do complexo B, magnésio, micronutrientes e elementos traços como o zinco, selênio, cromo, fatores lipotróficos.

Intolerância alimentar - é outra marca registrada do obeso. A sobrecarga de um ou de vários alimentos leva o organismo a ter dificuldades em processá-los e, assim, se instala os quadros de intolerância alimentar. Os alimentos que mais comumente levam à intolerância são: leite e derivados, trigo (farinha refinada), açúcar, aditivos, corantes, amendoim, carnes, chocolate, batata. Mas, a intolerância pode ocorrer por qualquer alimento. O organismo intolerante quando exposto ao alimento alvo desencadeia uma série de reações oxidativas que levam à sobrecarga orgânica e a um ganho de peso além do compatível com o valor calórico ingerido. A compulsão por determinado alimento é o sintoma clássico da intolerância alimentar, ou seja, você é intolerante geralmente ao alimento que você mais gosta. Aqui, esta talvez o maior desafio para a reversão da obesidade, pois se trata de um claro quadro de addict (vício e dependência química).

Gordura marrom - A gordura marrom é a gordura rica em mitocôndrias, que é o grande centro produtor de energia na célula. Existe em grandes quantidades nos animais polares e nos esquimós. Aliás, os esquimós ingerem grandes quantidades de gordura animal e possuem baixo índice de arteriosclerose e obesidade. A dietética ocidental rica em refinados leva a uma grande produção e estoque de gordura clara, com baixa concentração de mitocôndrias e, assim, "esfria" o organismo. A maior atividade metabólica promovida pela gordura marrom queima as calorias e impede o acúmulo sob a forma de gordura. Este fato explica o porque que muitas pessoas comem excessos calóricos e não engordam, enquanto outras engordam com pequenas ingestões calóricas. Devemos estimular a produção de gordura marrom com a ingestão de óleos como: oliva, de linho (flaxseed), prímula; gordura de peixe e exposição ao frio (banhos frios, etc.).

Flora intestinal - A flora intestinal bacteriana está quase sempre alterada no obeso juntamente com a presença de fungo nos intestino (disbiose e micose intestinal). A flora bacteriana normal exerce a função de um poderoso biorreator. Esse biorreator realiza a digestão primária, nutre as células da mucosa intestinal, detoxifica o organismo, e produz energia de consumo local e sistêmico (protons e eletrons). A simples alteração da flora intestinal já pode desencadear o ganho de peso. Vários estudos revelaram que a correção da flora intestinal no indivíduo em dieta para perda de peso aumenta a perda ponderal em cerca de 30%.

Prevenção - Por tudo o que foi exposto até agora, o ditado de que é mais fácil não engordar do que emagrecer, deveria ser a tônica de uma consciência neste campo. É comum ouvirmos: " estou me permitindo engordar agora, mas depois eu perco este peso".

O ganho de peso, principalmente na infância, é um sério problema de saúde que tem sido banalizado. A criança obesa tem grandes chances de se tornar um adulto obeso e, além disso, obesidade não é simplemente uma questão estética, como tentamos mostrar ao longo deste artigo.

Obesidade - Uma abordagem energético-molecular

Esse informe pretende passar para o cliente um enfoque bastante diferenciado em relação ao até agora apregoado pelo discurso dominante nesse campo. O discurso dominante mantém laços afetivos com os ditames da indústria alimentar de combate ao colesterol pelas gorduras vegetais hidrogenadas, e pela absolvição dos refinados (açúcar e farinha de trigo). Ora, qualquer estudioso sério e independente hoje sabe que a grande tragédia da alimentação moderna se deve justamente aos filões citados da poderosa indústria alimentar. Portanto, não dá para se falar em tratar obesidade, sem tocar nesta questão. Ao final desse informe o leitor saberá o porque dessas afirmações.

Questão básica: a obesidade é consequência da progressiva sobrecarga orgânica por alimentos desnaturados que levam à oxidação de enzimas fundamentais ao processo catabólico, particularmente ao nível dos músculos e tecido gorduroso. Portanto, a disfunção catabólica (bloqueio, dificuldade do organismo queimar sua reservas calóricas) seria a chave para se entender a obesidade.

O que são alimentos desnaturados?

São alimentos que perderam a vitalidade. O grande indicador de vitalidade dos alimentos é a presença de enzimas. Quando se aquece, pasteuriza ou se usa conservantes no alimento, se desnatura (paralisa) as enzimas. Em termos moleculares a desnaturação da enzima é chamada de oxidação, que quer dizer a perda de elétrons. Todo o processo metabólico se faz por troca de elétrons. Podemos dizer que metabolismo é em última análise a dinâmica de ganho e perda de elétrons. Os alimentos saudáveis são grandes doadores de elétrons, e os alimentos desnaturados/oxidados roubam elétrons do organismo e paralisam as enzimas pela oxidação. No caso da obesidade, a queda de rendimento do sistema lipase e das enzimas bioxidantes musculares, desempenham um papel chave. Sem esse sistema funcionante não existe catabolismo dos estoques de gorduras (queima de reservas).

A gordura produzida e estocada pelo organismo, a partir da ingestão de alimentos oxidados se torna também oxidada e refratária ao processo de mobilização.

Quais são os principais alimentos oxidados?

De uma maneira sintética se poderia dizer que os alimentos oxidados são todos os alimentos processados pela indústria alimentar, pois a maioria deles contêm um ou mais dos principais alimentos/substâncias oxidantes como: refinados (açúcar ou xarope, farinha de trigo), gordura hidrogenada, as proteínas de animais alimentados com alimentos oxidados, hormônios, antibióticos, e o preparo através dos conservantes, corantes, aditivos em geral, todos eles potentes oxidantes. Em suma, todos os alimentos industrializados ou não, que contenham refinados (pão branco, pizzas, macarrão, biscoitos, bolos), gorduras vegetais hidrogenadas (óleos de soja, milho, canola, girassol, margarina), leite e ovo em pó, chocolates, carnes processadas (salame, presuntos, salsichas, hambúrguer, etc.)

Quais são os alimentos saudáveis e não oxidados?

São os alimentos frescos, de preferência orgânicos e sem agrotóxicos e aditivos químicos.

Os legumes e verduras devem ser consumidos crus (sucos, saladas) ou no vapor. Evitar comer carne sob a forma de churrasco e dar preferência a carnes de animais que se alimentaram naturalmente (boi de pastagem, galinha e ovo caipiras, etc). A ingestão de gorduras não oxidadas é importante, como o azeite de oliva extra virgem, castanhas, nozes, amêndoas, semente e óleo de gergelim, óleo e semente de linhaça (flax seed), semente de abóbora, semente de girassol, gordura de peixe, gordura de côco. As sementes devem ser consumidas de preferência germinadas (brotos).

Mas o problema da obesidade não é o consumo exagerado de calorias?

A alimentação rica em calorias está presente na obesidade, mas não é a questão central. A questão central é que ela é uma alimentação oxidada. Muitas pessoas têm uma alimentação hiper calórica e não engordam, e muitos gordos fazem dieta restritiva e não emagrecem. A diferença é que os primeiros conseguem oxidar/catabolizar, mesmo na vigência de uma alimentação oxidante. A medicina hoje já tem estudos suficientes para concluir que a restrição dietética não é um caminho válido para o tratamento da obesidade, pelo contrário, todas as evidências são no sentido de que esse caminho além de pouco eficaz, sobrecarrega fortemente o organismo.

É necessária a ingestão de suplementos alimentares?

Geralmente sim, pois a obesidade é a manifestação de uma má alimentação e freqüentemente temos déficits de Vitaminas do complexo B, Vitamina C, E, magnésio, oligoelementos como Cromo, Vanádio, Zinco, Selênio, ácidos graxos essenciais (ômega 3 e 6). Além de corrigir os déficits, os nutrientes em doses adequadas, muitas vezes via venosa, são fundamentais para a reversão do quadro oxidativo molecular.

Como a falta de exercício físico contribui para a obesidade?

O exercício físico é fundamental, seja na prevenção seja na reversão da obesidade. A redução da bioxidação (consumo de oxigênio) ao nível das células musculares e a conseqüente oxidação enzimática, está no centro do bloqueio catabólico da obesidade. Portanto, o exercício físico adequado é tão importante quanto a dietética.

E o componente psicológico na obesidade?

Na verdade, a compulsão é a manifestação de um desequilíbrio orgânico, onde está geralmente envolvido a alergia aos alimentos pelo quais se tem compulsão (toxicidade), déficit e desbalanceamento nutricionais. Por exemplo, a compulsão por doce acontece em ambiente de alergia ao açúcar, da grande ingestão de sal, do déficit de cromo, magnésio, serotonina, e assim, se mantém o ciclo vicioso, com possibilidades de manifestações psicológicas importantes. Por outro lado, a compulsão pode ser vista como a busca do organismo por alimentos que ele está necessitando e não encontra. Portanto, a compulsão é a expressão do desequilibrio e não a manifestação de uma vontade autônoma do indivíduo. Na verdade, vivemos numa sociedade em grave psicopatologia social, que exercita em todos os níveis a cultura de morte (consumismo, oralidade, egoismo, inveja, sedentarismo, medo, desconexão) completamente manipulada pelos interesses corporativos. Como debitar a conta da obesidade apenas no obeso. Ele é mais vítima do que ator pró-ativo.

E a questão da ansiedade?

A ansiedade também é conseqüente às alterações metabólicas. Aqui, é preciso falar de uma questão central no desenvolvimento e manutenção da obesidade: o elevado nível da insulina no sangue (hiperinsulinismo). Esse estado é uma constante no obeso. Daí a insistência em não se ter uma alimentação que estimule a liberação de insulina (refinados, frutas ricas em frutose, gorduras oxidadas). Quando se ingere, por exemplo, um refrigerante que contém cerca de 60 gramas de açúcar, há uma passagem imediata da glicose para o sangue, que suscita uma grande liberação de insulina e, em seguida, uma liberação de adrenalina e dos chamados hormônios do stress, gerando, assim, uma reação do sistema adrenérgico, com taquicardia, sudorese, mãos frias, etc. A cronificação desse processo está por trás dos quadros de ansiedade, fobias e pânico, tão freqüentes no obeso.

Como reverter o bloqueio da perda de massa gorda na obesidade?

Podemos resumir nos seguintes itens:

1. Alimentação não restritiva com alto conteúdo de "alimentos vivos" não oxidados e redução drástica dos alimentos oxidados e substâncias químicas.

2. Ingestão de água de boa qualidade sem cloro

3. Correção nutricional e programa antioxidante

4. Exercício físico regular privilegiando o exercício isométrico que ativa as fibras musculares vermelhas (consomem ácidos graxos), ao invés do exercício repetitivo aeróbico que estimulas as fibras que consomem glicogênio

5. Oxigenação adequada

6. Suporte funcional: abordagem médica individual para avaliar déficits funcionais, principalmente de tireóide, pâncreas e intestinos.