O Grande Conto do Colesterol

Eduardo Almeida, MD, PhD

Em 1913, Nikolai Anitschkow, em St. Petersburg, Rússia, alimentou coelhos com colesterol e constatou alterações ateroscleróticas em suas artérias. Só mais tarde um outro pesquisador russo, vivendo nos EUA, retomou a tese lipídica.

Em 1954, seu compatriota, David Kritchevsky, publicou um artigo no Am.J Physiology (Jul-Sept, 1954), onde chamava a atenção dos cientistas para a emergência da epidemia de doença coronária (DC). Afirmava que seus estudos comprovavam ser o colesterol o produtor da arteriosclerose no coelho, e propunha o uso das gorduras polinsaturadas vegetais para reduzir os níveis de colesterol além da redução do consumo de gorduras animais.

A placa apresentada pelo coelho de Kritchevsky era completamente diferente da placa do humano. Os coelhos (vegetarianos) eram alimentados com colesterol purificado e oxidado pelo processamento. Os coelhos faziam depósito de gordura nas artérias semelhante ao urso polar na fase pré hibernação, e não a placa esclerótica do humano.

Em 1954, Ancel Keys levantou a hipótese de que a doença coronária seria provocada pelo acúmulo de gorduras saturadas e colesterol (tese lipídica). Usou para tal um cruzamento entre consumo de gorduras saturadas e DC em seis países.

A história dos seis países, que permitiu a Ancel Keys concluir sobre a relação direta entre consumo de gorduras saturadas e DC, revela um fato interessante. A OMS, diante das evidências do aparecimento da arteriosclerose, convocou, em 1954, um comitê de experts (First Expert Committess on Pathogenesis of Atherosclerosis). Participaram do comitê Paul Dudley White de Boston, Gunnar Bjork de Estocolmo, Noboru Kimura do Japão, George Pickering de Oxford e Ancel Keys de Minnesota. Durante uma exposição de Ancel Keys, o professor Pickering o interrompeu e fez a seguinte pergunta: “professor Keys would be kind enough to cite for us the principle piece of evidence that you think supports this diet-heart theory of yours? (tradução: professor Keys poderia gentilmente citar para nós a peça principal de evidência que você pensa dar suporte a sua teoria dieta-coração?)

O assistente de Keys Henry Blackburn nos conta: “O professor se sentiu muito mal com a pergunta. Ao invés de citar... bem essa teoria está baseada num corpo de evidências que temos percebido na clinica, no laboratório e em grupos populacionais, ele citou uma “peça destruida”. Ele saiu como alguém nocauteado e disse: “I will show those guys”. No hotel, selecionou os seis países e no segundo dia da reunião apresentou a relação dos seis países como sendo a peça comprobatória (figura abaixo).

Entretanto, se Ancel Keys tivesse feito esse mesmo cruzamento entre os 20 paises em que esses dados estavam disponíveis, não encontraria qualquer relação substantiva. Segundo Kendrick se Keys tivesse escolhido Finlândia, Israel, Alemanha, Holanda, Suiça e Suécia os resultados seriam opostos (figura abaixo).

Segundo Mary Enig, Ancel Keys declarou certa vez que o óleo vegetal parcialmente hidrogenado com seus ácidos graxos trans (AGs trans), eram os verdadeiros responsáveis pela DC. Isso foi dito em 1958. A indústria alimentar ficou muito incomodada com tal afirmação, e mudou sua estratégia, passou da denúncia da gordura saturada (bad lard) para a denúncia da carne e da gordura do leite como responsáveis pela DC.

Em 1956, a American Heart Association (AHA) comunicou a tese Lipídica em um painel transmitido pelos três maiores canais de TV. Os panelistas recomendaram a dieta de Prudent, que orientava para o consumo de óleos vegetais, margarinas, galinha, ao invés de toucinho, manteiga e ovos.

O Dr Dudley White, voz discordante nesse painel, disse textualmente: ”Eu comecei a minha prática como cardiologista em 1921, e eu nunca vi um infarto do miocárdio até 1928. Nesse período as pessoas consumiam predominantemente gordura animal, ninguém havia ouvido falar em óleo de milho até então”.

Mas, antes disso, a AHA havia negado a tese lipídica quando comentou: ”a alimentação anti-gordura e anti-colesterol é não apenas fútil e ingênua, mas traz consigo também riscos”.

Após um intenso lobby da indústria alimentar a AHA se rendeu á tese lipídica que dizia ser a alimentação rica em gorduras saturadas e colesterol (animal) a responsável pela DC, hipertensão arterial e derrame. Prudent era o president da AHA, e enfrentou um racha no board da AHA, entre os favoráveis e os contrários à tese lipídica. Ele compunha o primeiro grupo.

Por essa razão, a dieta que seguia os princípios da tese lipídica recebeu o nome de dieta do coração ou dieta de Prudent. Propunha evitar os alimentos com gorduras saturadas e colesterol, e estimular o consumo das gorduras polinsaturadas pobres em colesterol, sem fazer menção aos carboidratos e proteinas.

Ironicamente, o Dr Prudent participou de um estudo desenhado entre os membros da AHA. Ele integrou o grupo que consumiu gorduras polinsaturadas pobre em colesterol e veio a falecer de DC.

A Dieta Rica em Gorduras Saturadas aumentaria o Colesterol Sanguíneo?

Em 1920, o Dr Paul Dudley White trouxe o primeiro aparelho de ECG da Alemanha. Além da curiosidade se comentou sobre a pouca utilização do equipamento em virtude da baixa frequência de DC nos EUA.

Entre 1910-1920, quando se consumia basicamente gordura saturada, a DC era uma raridade. Em 1970, a DC já era responsável por 40% das mortes nos EUA.

Nesse período de 50 anos (1920-1970) o consumo de gordura saturada caiu de 83% para 62%; o consumo de manteiga caiu de 8Kg para 1,8 kg por pessoa/ano; o consumo de colesterol aumentou 1%; o consumo de óleos vegetais aumentou 400%; o consumo de açúcar aumentou 60%.

Um survey realizado em 1990, mostrou que homens consumidores de manteiga, tiveram a metade do risco coronário em relação aos que consumiam margarina (Nutr Week, Mar 22, 1991, 21:12:2-3)

Estudos suecos, publicados em 2004, revelaram que o consumo de manteiga está negativamente associado à DC. Ou seja, a manteiga protege o coração (British J. Nutrition, 2004).

Na Índia, as populações do Norte consomem 7 vezes mais gorduras saturadas do que as do Sul. A população do Norte têm 7 vezes menos DC (Malhotra, S,Indian Journal of Industrial Medicine, 1968, 14:219)

A França possui alto consumo de gorduras saturadas, e tem o menor índice de DC do Ocidente (145 mortes/100.000 hab). Na região de Gascony, onde se cria gansos para produção de patês, a mortalidade é de 80/100.000 hab., enquanto nos EUA a mortalidade é de 315/100.000 hab.

A cidade de Framingham, Massachussetts, tem sido a grande fonte para estudo prospectivo em relação às doenças cardio-circulatórias, desde 1948. Sua população atual é de cerca de 67 mil habitantes. Os diretores desse projeto ganham destaque na produção científica da área. O Dr Castelli foi um dos primeiros diretores. O Dr George Mann dirigiu por três anos o Projeto Framingham, e suas conclusões deram origem ao livro “Coronary Heart Disease – The Dietary Sense and Nonsense” (1993), onde afirma de maneira categórica que as gorduras saturadas não são as responsáveis pela DC.

Estudo de Framingham num survey de 16 mil homens saudáveis de meia idade, avaliados 6 anos após (1981, primeira leitura), revelou que aqueles com DC consumiram mais óleos polinsaturados (vegetais).

São vários os estudos que contestam a tese lipídica e a dieta de Prudent, mas a tese centrada no colesterol comete uma “imprudência” ao chamar o colesterol de gordura. O colesterol não é uma gordura e sim um esterol (álcool) com estrutura semelhante a hormônio, que se torna hidrossolúvel quando ganha a capa de uma lipoproteina. Por esse motivo, não adere à placa ou à rugosidade endotelial. São os triglicérides que aderem à rugosidade endotelial. O colesterol não está nas gorduras e sim nas carnes (membrana celular).

É completamente insustentável a história de colesterol bom (HDL) e ruim (LDL). O primeiro é a forma de transporte do colesterol das células para o figado, o segundo do fígado para as células. Ambos têm suas funções específicas e essenciais. Foi o public relation (PR) da indústria farmacêutica quem inventou esse conto.

O professor Ancel Keys afirmou textualmente: “In the adult man the serum cholesterol level is essentially independent of the cholesterol intake over the whole range of human diets ... There is no connection whatsoever between cholesterol in food and cholesterol in blood. And we have known that all along. Cholesterol in the diet does not matter at all unless you happen to be a chicken or a rabbit." (Ancel Keys, Ph.D., professor emeritus at the University of Minnesota, 1997) (tradução: no homem adulto o nível de colesterol sérico é essencialmente independente da ingesta de colesterol.... Não há conexão, portanto, entre colesterol no alimento e colesterol no sangue. Nós sabemos disso faz tempo. Colesterol na dieta não importa absolutamente, a menos que você seja uma galinha ou um coelho).

O colesterol da Dieta responde apenas por cerca de 30% do colesterol sanguíneo, os outros 70% são Colesterol endógeno, produzido pelo próprio organismo.

Vários tecidos participam da produção do colesterol endógeno - o fígado é responsável por 20%, mas a síntese intestinal de colesterol é muito superior à hepática.

Segundo Castelli: “Os valores de colesterol e triglicerídeos séricos não estão positivamente correlacionados com a seleção de constituintes da dieta ... No estudo de Framingham, Massachusetts, quanto mais gordura saturada se comia, quanto mais colesterol se ingeria, quanto mais caloria se comia, menor o nível de colesterol sérico ... Nós constatamos que o indivíduo que ingeria mais colesterol, comia mais gordura saturada, ingeria mais calorias e comumente era fisicamente mais ativo” (Dr William Castelli, 1992, director do Framingham study).

Outro estudo populacional importante revelou o seguinte: a) aqueles com níveis baixos de colesterol sanguíneo consumiam em média 52g/dia de gordura saturada; b) aqueles com níveis médios de colesterol sanguíneo consumiam em média 54g/dia de gordura saturada; c) aqueles com níveis altos de colesterol sanguíneo consumiam em média 54g/dia de gordura saturada (Cholesterol Intake and Blood Lipids - The Tecumseh Study).

Porque a ingesta de gorduras saturadas não aumenta o Colesterol?

O fígado não utiliza gorduras, saturadas ou não, para produzir colesterol; o fígado não produz LDL e sim VLDL. O LDL é um resíduo metabólico do VLDL; o VLDL é convertido em LDL através da perda de triglicérides; os níveis de VLDL e LDL são totalmente não relacionados. Isso significa que a ingestão de gordura saturada não afeta os níveis de LDL.

Colesterol e gorduras saturadas são compostos não relacionados, ou seja, não existe processo químico que produza colesterol a partir de gordura saturada ou qualquer outro tipo de gordura.

O aumento do colesterol no sangue é na verdade o aumento de LDL. O aumento de VLDL é chamado de hipertrigliceridemia

A única conexão entre gorduras saturadas e colesterol é que ambos não são hidrossolúveis e por esse motivo têm que circular sob a forma de lipoproteínas.

Basta observar a estrutura química de um ácido graxo e a do colesterol para perceber que um não se transforma no outro.

O colesterol não é um tóxico e sim uma substância vital ao organismo de todos os mamíferos. O organismo produz 3 a 4 vezes mais colesterol do que ingere. Produz diariamente cerca de 2000 mg de colesterol, e aumenta a produção quando se ingere pouco colesterol e diminui a produção quando se ingere muito.

A dieta de Prudent não consegue reduzir a taxa de colesterol além de pequena percentagem.

Vários estudos revelam que o aumento da ingesta de alimentos ricos em colesterol reduz o colesterol sanguíneo.

Seria o Colesterol o responsável pelo processo de Arteriosclerose no Homem?

Indivíduos com Colesterol normal ou baixo desenvolvem placas do mesmo modo daqueles com Colesterol alto. Mais da metade (60%) dos indivíduos com Infarto apresentam nível normal de Colesterol.

Estudos revelaram que o Colesterol baixo representa um risco cardiovascular muito maior que o alto, em especial nos idosos (JAMA 272, 1335-1340, 1994). Estudo de Krumholz et al, do departamento de medicina cardiovascular de Yale, seguiu durante 4 anos 997 idosos, e revelou que aqueles com colesterol baixo tiveram uma mortalidade cardiovascular duas vezes maior comparados com os com colesterol alto (Krumholz HM. “Lack of association between cholesterol and coronary heart disease mortality and morbity and all cause mortality in persons older than 70 years”. JAMA 272, 1335-1340, 1994).

Os estudos de Framingham revelaram que níveis altos de Colesterol têm efeito protetivo nas pessoas com mais de 60 anos.

O estudo geral que contempla todas as idades revelou aumento do risco coronário em pessoas com colesterol alto apenas para homens adultos entre 29 a 47 anos, mesmo assim numa proporção que não ultrapassou 5%. Caso as pessoas com hipercolesterolemia familiar fossem retiradas da amostra, não haveria diferença entre os dois grupos.

A leitura de cinco anos do projeto Framingham que revelou o aumento da morbidade cardio-circulatória entre homens de 29 a 47 anos, foi publicada no final da década de 50. Esse estudo foi o grande patrocinador da tese Lipídica. Entretanto, folllow up do mesmo projeto Framingham feito 16 anos após, revelou quase nenhuma diferença entre os dois grupos (colesterol normal x alto). Outro follow up feito 30 anos após, revelou que nos homens acima de 47 anos a mortalidade não era alterada pelos níveis de colesterol. Ainda mais surpreendente foi a revelação no follow up de 30 anos, em que a diminuição do colesterol no período, estava associada a um maior risco de morte do que o incremento.

Estudo publicado recentemente, onde foram acompanhados durante 30 anos 17 mil adultos que apresentaram ganho significativo de peso na meia idade, mas que sempre mantiveram níveis de colesterol dentro da normalidade, como também nenhum outro fator de risco, revelou aumento significativo do risco cardio-circulatório na ordem de 43% se comparado ao grupo de peso normal (JAMA, Jan. 11, 2006; 295(2): 190-198).

Os aborígenes australianos, os índios americanos, os emigrantes indianos e paquistaneses e grande porcentagem de homens russos, possuem alto índice de DC e têm uma coisa em comum – baixos níveis de LDL.

O indiano talvez seja o grupo étnico estudado com maior índice de DC, apesar de parcela significativa ser vegetariana. A DC costuma ocorrer precocemente e com curso maligno, apesar dos fatores de risco serem significativamente baixos (Enas, Arch. Cardiol, March, 1995).

Na segunda metade do Sec XX, observou-se uma elevação expressiva da mortalidade por DC em homens russos. O professor Shestov realizou amplo estudo e descobriu que os baixos níveis de LDL foi o fator de risco mais importante de mortalidade cardíaca, concluiu dizendo: “The results disclose a sizeable subset of hypocholesterolaemics in the population at increased risk of cardiac death.” (tradução: Os resultados revelam um subgrupo mensurável de hipocolesterolenêmicos em risco elevado de morte cardíaca na população)

Quando se aplicou os parâmetros para DC do “Framingham risk equation” para homens britânicos por 10 anos, observou-se que 84% das doenças cardíacas ocorreram em homens classificados como de baixo risco. Entretanto, 75% dos homens classificados em alto risco estavam ainda livres de ocorrências de DC, dez anos após. (BMJ, 29 Nov. 2003; 327(7426): 1267)

No Japão, nos últimos 50 anos, os níveis de colesterol aumentaram 20% e a incidência de acidente vascular encefálico (AVE) caiu 600%.

O Dr Gregg Fonarow (California University, Los Angeles Medical Center ) publicou recentemente artigo em que cerca de 75% dos pacientes, com primeiro evento coronariano, tinham LDL abaixo de 130 mg/dL, e cerca de 50% tinham LDL abaixo 100 mg/dL.

A tese Lipídica já poderia estar sepultada desde 1968, quando foi publicado no J. Lab Investigation o resultado do “International Atherosclerosis Project”, que reuniu 14 países, e foram realizadas 22.000 autópsias. O estudo mostrou grau semelhante de ateroma nos vários países, independente da dieta ser rica em gordura saturada ou vegetal. No entanto, foi encontrada muito mais obstrução arterial nas pessoas com colesterol baixo comparadas às com o colesterol alto.

Estudo, realizado no Canadá (Quebec Cardiovascular Study), acompanhou durante 12 anos, 5.000 homens saudáveis de meia idade, revelou não haver relação entre níveis de colesterol e DC.

A grande maioria dos estudos populacionais revelou que, entre as mulheres, independente da idade, e mesmo com níveis elevados de colesterol na ordem de 1000 mg/dL, o colesterol não pode ser considerado um fator de risco. Pelo contrário, é o colesterol baixo que consiste em fator de risco para as mulheres (NHLB Institute; Circulation – 1992).

Estudo feito em Paris mostrou que as mulheres longevas possuem colesterol elevado (Lancet, 1989).

Um survey conduzido pelo famoso cirurgião Michael DeBakey, na década de 60, não encontrou relação entre os níveis de colesterol e a incidência de DC (DeBakey, M, et al, JAMA, 1964, 1 89:655-59).

O professor George Mann, da Vanderbilt University, ex diretor do Framinghham Project, estudou os Masais do Quênia. Os Masais consomem predominantemente leite, carne e sangue. Mann descobriu que os Masais praticamente não apresentam DC, e têm níveis baixos de colesterol. Além disso, realizou 50 autopsias e, para a sua surpresa, encontrou arteriosclerose em níveis semelhantes ao dos americanos. Mas, o tipo de placa que causa obstrução foi raramente encontrado. Não havia qualquer sinal de isquemia nos 50 corações estudados (“Diet Heart, End of an Era”, New England J Med, 297 (1977): 644). Em comentário posterior o professor Mann afirmou sobre a tese Lipídica: “Ela é a diversão pública número um da saúde pública nesse Século..... O grande escândalo da história da medicina”.

Em 1992, o professor Mann, organizou uma conferência para tratar da questão Dieta/DC. Ele teve dificuldade para arregimentar um número expressivo de pesquisadores que temiam entrar na lista negra do financiamento de pesquisas. Disse ele: “ I could show a list of scientists who said to me, in effect, when I invited them to participate: "I believe you are jeopardize my perks and funding… for me, that kind of truth, that the Diet/Heart hypothesis is wrong, but I cannot join you because that critical hypothesis would response separates the scientists from the operators …” (tradução: “Eu poderia mostrar uma lista de cientistas, que me disseram, na ocasião que eu os convidei para participar da conferência, o seguinte:’Eu acredito que isso ameaça meus prestígio e financiamentos.... para mim, essa espécie de verdade sintetizada na hipótese dieta/coração está errada, mas eu não posso juntar-me a você porque essa hipótese crítica promoveria a separação dos cientistas dos operadores... [financiadores].

Em 1967, o Dr SL Malhotra publicou estudo envolvendo os trabalhadores da estrada de ferro na India. Ele revelou que a DC era 7 vezes mais comum entre os trabalhadores em Madras, comparados aos de Punjab. Os trabalhadores de Punjab consomem 7 a 10 vezes mais gorduras, fumam 8 vezes mais que os de Madras, e vivem 20 anos mais que os predominantemente vegetarianos de Madras (British Heart Journal, 1967).

Um estudo multicêntrico (Multiple Risk Factor Trial (MRFIT) foi desenhado para demonstrar que o controle da pressão arterial (PA), do colesterol e do tabagismo diminuiria a mortalidade coronariana. Após screening de 350 mil homens de meia idade, selecionou-se 13 mil. Esses últimos foram divididos em dois grupos, um recebeu tratamento para os fatores de risco (PA<140/90), outro recebeu medidas usuais (conservadoras). Após 10 anos e um gasto de 115 milhões de US$, não foi notado qualquer diferença significativa entre os grupos. Pelo contrário, a mortalidade no subgrupo hipertenso tomando diurético foi maior (JAMA, 248 (1982):1465-1477)

O Prof Olson foi contratado para rever a literatura sobre os efeitos tóxicos da alimentação rica em colesterol pela American Research Agency. Concluiu que não havia evidências para desaconselhar o uso das gorduras saturadas (“Towards Healthful Diets”. Report to the US Acad of Science, April, 1980).

O professor suiço Hans Mohles chegou a mesma conclusão de Olsen e escreveu o livro: Cholesterin Neurose. Frankfurt: Oto Sale Vlg, 1978. Outro estudo publicado no JAMA mostrou que não há relação entre o consumo de ovos e DC (JAMA, 281 (1999): 1387-94).

Em Maio de 1999, o Dr Walter Willet, professor titular do departamento de nutrição de Harvard, deu um seminário no National Institute of Health (NIH), Bethesda, com o título: “Diet and Heart Disease: Have we misled the Nation”? (Dieta e Doença cardíaca: Temos enganado a Nação?). Concluiu na ocasião que os dados até hoje disponíveis não dão suporte à tese de que “gorduras são ruins para nós”. Aponta, pelo contrário, para os carboidratos com alto índice glicêmico como os reais vilões.

Estudo recente comprova a tese de Willet. Investigou-se o hábito alimentar de 48 mil pessoas e se conclui que aquelas que consumiam mais carboidratos refinados tinham o dobro de risco de apresentar DC (Archives of Internal Medicine, April 12, 2010;170(7):640-7).

O professor de patologia de Harvard Kilmer McCully publicou os resultados de 194 autopsias consecutivas em homens veteranos de guerra com severa arteriosclerose, e encontrou uma porcentagem de apenas 8% com colesterol acima de 250 mg/dL. A média de colesterol entre eles era de 186 mg/dL (Am. J Med Science, 299:217221,1990).

A European Society of Cardiology divulgou os resultados de um estudo extensivo (EUROASPIRE) em toda a Europa para avaliar fatores de risco cardiovascular. Na conclusão do relatório está escrito: “ ...o tabagismo, DC prévia e o diabetes são fatores risco significantes. Obesidade, baixa escolaridade, hipertensão arterial, colesterol total alto, HDL baixo, entretanto, não foram significantes no aumento da mortalidade.

Recentemente, fomos positivamente surpreendidos por declarações do FDA e CDC americanos, que são os órgãos máximo do oficialismo na regulação da saúde. Emitiram nota em conjunto onde afirmaram não haver qualquer comprovação da relação entre gordura saturada/animal e DC, e foi mais além, deram um prazo de três anos para que a indústria alimentar parasse de usar gorduras vegetais trans. Tudo isso é o oposto do que afirmam os partidários da tese Lipídica. Só faltou falar do colesterol. Omitiram-se nesse quesito, provavelmente não tiveram peito para ir além, seria uma hecatombe.

A tese Lipídica diz que a gordura saturada degenera a estrutura arterial por deposição. A seguir vamos mostrar a composição da parede arterial e a composição da placa

Parede Arterial Normal

Fibras Colágenas 25 a 30%

Fibras de Elastina 30 a 40%

Musculatura e subst. fundamental 30 a 40 %

A subst. fundamental é composta de mucopolissacarídeos que ficam entre as fibras colágenas e a elastinas

Composição da Placa de Ateroma

Ácidos graxos saturados em éster de colesterol: 26%

Ácidos graxos insaturados: 74% (38% Polinsaturados; 36% Monosaturados)

Fonte: Lancet,344:1195-1196,1994

O que os estudiosos centrados na tese Lipídica não conseguem perceber, é que a doença arteriosclerótica é um processo de degeneração da artéria, e certamente os processos de degeneração do organismo não ocorrem pela ingestão de gorduras saturadas. Os processos de degeneração no organismo ocorrem pelos vários tipos de stress/sobrecarga. O organismo responde aos vários tipos de stress de uma mesma forma, como nos mostrou Selye. Essa adaptação envolve alterações hormonais que afetam o metabolismo celular básico, mais especificamente, desvia o metabolismo celular para o padrão catabólico – dominância dos hormônios catabólicos (cortisol, tiroxina) e baixa dos anabólicos (GH, hormônios sexuais). Por esse motivo é que os estudos, não comprometidos com a tese lipídica, têm sido claros em revelar que o consumo de carboidratos refinados (provocam alteração hormonal com desvio catabólico) são os verdadeiros vilões da alimentação moderna.

A medicina deveria ser avessa ao exotismo das teses não sustentadas pelas leis e processos que regem o funcionamento do organismo. Se assim procedesse, não cairia tão fácil no conto do colesterol. O colesterol é uma das substâncias mais importantes no funcionamento do organismo. Como pode essa substância dar vida e ao mesmo tempo degenerar esse organismo?

Vejamos algumas das principais funções do colesterol:

a) Integridade estrutural da membrana celular

b) Precursor dos esteróides (cortisol e hormônios sexuais) e Vitamina D

c) Produção dos sais biliares

d) Antioxidante poderoso

e) Sensibiliza os receptores serotonínicos e é estratégico na ativação sináptica cerebral

f) Protege a mucosa intestinal

g) Leite materno é riquíssimo em Colesterol

Por que e para que baixar o Colesterol?

Vejamos como ocorre a síntese do colesterol. Três moléculas de acetilcoenzima A (2 carbonos) se combinam para formar o ácido hidroximetilglutárico (HMG – 6 carbonos). Em seguida, através da enzima HMG-CoA-redutase, chega-se à cadeia do Mevalonato. Ao se bloquear essa enzima, bloqueamos a formação não só do colesterol, mas de pelo menos cinco substâncias fundamentais além do colesterol, como mostra o quadro abaixo.

A Coenzima Q10 ou Ubiquinona é fundamental na respiração celular, na biossíntese mitocondrial e na produção de energia. Dos quatro complexos enzimáticos da cadeia respiratória da mitocôndria, três são dependentes da Coenzima Q10. O coração demanda grande quantidade de Coenzima Q10, pois uma célula cardíaca (cardiócito) é cerca de 75% de mitocôndria. A Ubiquinona é encontrada em todas as membranas celulares, e é de grande importância na manutenção da condução nervosa e integridade muscular. A Coenzima Q10 participa na formação do colágeno e da elastina, daí o aumento da ruptura ligamentar em quem usa estatina.

As células com maior quantidade de mitocôndria são as que mais sofrem com o uso da estatina, como as células do fígado, do miocárdio e dos músculos. A produção de energia nessas células cai drasticamente. Como um medicamento que tira a energia das células e dos órgãos pode auxiliar o organismo? Como o mais poderoso órgão produtor de energia do organismo humano (20 mil vezes superior aos demais órgãos) - o coração, pode se beneficiar de um medicamento que rouba a sua energia?

Há algo de muito estranho na cardiologia cujo o medicamento mais prescrito é a estatina.

No Canada o Liptor vem com uma advertência na caixa de que a droga reduz os níveis de Coenz Q10 e L-Carnitina.

O Dolichol participa da síntese protéica intermediando as informações do DNA (auxilia a transcriptação do DNA). É fundamental na síntese de neuropeptideos. Dai os vários sintomas neuropsiquiátricos nos usuários de estatina.

O Esqualeno é um precursor imediato do Colesterol e tem reconhecida ação antineoplásica (Óleo e Cartilagem de Tubarão).

O NFkappaB é uma citoquina proinflamatória. Talvez aqui resida o pequeno efeito terapêutico das estatinas – anti-inflamação. Mas, seria razoável usar uma droga tóxica e cara simplesmente como um antiinflamatório???

O filão das estatinas

O grupo farmacêutico das estatinas envolve algumas substâncias semelhantes e outros tantos medicamentos de marca como Liptor, Crestor, Sinvastatina, Zocor, etc. A estatina é uma toxina de um fungo do arroz vermelho chinês. Possui potente ação de bloqueio da enzima HMG-coA-redutase e com isso reduz drasticamente o colesterol e demais substâncias do ciclo do mevalonato (vide acima).

Embora se consiga reduções drásticas nos níveis do colesterol, os resultados na prevenção e regressão da placa ateromatosa e doença arteriosclerótica são modestos ou inexistentes, principalmente quando analisado a médio e longo prazo.

Vamos analisar alguns dos principais estudos que avaliaram a eficácia das estatinas. Comecemos pelos estudos que mostram claramente o efeito protetivo do colesterol em pessoas com mais de 56 anos.

O estudo conhecido como Honolulu Heart Program com 20 anos de duração concluiu: “Nossos dados são semelhantes aos de estudos prévios que revelaram um aumento de mortalidade em pessoas idosas com colesterol baixo, bem como mostraram que os níveis persistentemente baixos de colesterol por longo tempo aumentam o risco de morte. Assim, quanto maior o tempo de vigência de colesterol baixo, maior o risco de morte.”

O estudo “antihypertensive and lipid-lowering treatment to prevent heart attack trial” (ALLHAT, 2002). Talvez o maior estudo nos EUA sobre os efeitos do Lipitor, revelou a mortalidade após 3 e 6 anos de tratamento (10.000 participantes). Conclusões: “Of the 5,170 subjects in the group that received statin drugs, 28 percent lowered their LDL cholesterol significantly. And of the 5185 usual-care subjects, about 11 percent had a similar drop in LDL. But both groups showed the same rates of death, heart attack and heart disease”.

O “prospective study of pravastatin in the elderly at risk” (PROSPER, 2002), estudou o efeito da Pravastatina em grupos de idosos: 56% sem episódios prévios de DC sintomática, e 44% com episódios prévios. Conclusões: “The Pravastatin did not reduce total myocardial infarction or total stroke in the primary prevention population, but did so in the secondary. However, measures of overall health impact in the combined populations, total mortality and total serious adverse events were unchanged by pravastatin as compared to the placebo and those in the treatment group had increased cancer”.

O “Japanese lipid intervention trial” (J-LIT, 2002) estudo Japonês de 6 anos, envolvendo 47.294 pacientes tratados com a mesma dose de Sinvastatina, concluiu: “No correlation between the amount of LDL lowering and death rate at five years. Those with LDL cholesterol lower than 80 had a death rate of just over 3.5 at five years; those whose LDL was over 200 had a death rate of just over 3.5 at five years”.

O “Anglo-Scandinavian cardiac outcomes trial - lipid lowering arm” (ASCOT-LLA 2003), avaliou o efeito da atorvastatina (Lipitor) versus placebo em mulheres hipertensas e com outros fatores de risco coronariano. O estudo foi inicialmente desenhado para 5 anos, mas foi interrompido em 3,3 anos devido a significativa redução dos eventos cardíacos. No entanto, não houve qualquer diferença em relação à mortalidade. As mulheres apresentaram muitos efeitos colaterais (Sever PS and others. Lancet 2003;361:1149-1158).

O que os leitores não sabem é como foi calculado o índice de 27% na redução de AVE; 2,4% do grupo sem estatina tiveram AVE; 1,7 % do grupo com estatina tiveram AVE, ou seja, uma diferença de 0,7 pontos que corresponderia a um índice projetado de 27%......

O “PRavastatin or AtorVastatin evaluation and infection study” (PROVE-IT, 2004), foi uma pesquisa realizada na Harvard University Medical School, que obteve ampla divulgação na mídia. Veja a matéria de alguns jornais.

"Study of Two Cholesterol Drugs Finds One Halts Heart Disease" (N Y Times, November 13, 2003)

Editorial: "Extra-Low Cholesterol“ (New York Times, March 10, 2003)

“Striking Benefits Found in Ultra-Low Cholesterol” (Washington Post, March, 9, 2004)

O PROVE-IT introduziu uma nova questão na prevenção da DC pela redução do colesterol - o fim do enfoque quantitativo na análise do colesterol. Ou seja, não existe mais nível normal de colesterol, quanto mais baixo melhor. Como foi dito na matéria da revista Veja na época: “o chão é o limite”

Imediatamente, os médicos passaram a adotar a conduta de aumentar a dose das estatina para quem já a usava, e se sentiram à vontade para fazer a prevenção com a estatina nas pessoas sem qualquer evento prévio de DC.

Qual foi o resultado desse estudo para gerar tamanho frisson? O estudo comparou duas drogas: Lipitor (Pfizer) e Pravachol (Bristol Myers-Squibb - BMS). Este último foi quem financiou a pesquisa. Investigou-se 4.162 pacientes que eram acompanhados por infarto ou angina instável. Metade tomou Liptor e metade tomou Pravachol. Os que tomaram Liptor tiveram uma redução maior do LDL (62 contra 95). No grupo Liptor houve uma redução de 32% no LDL e 16% em todas as causas de mortalidade. Mas, os tais 16% foram uma redução do risco relativo e não risco real. A redução absoluta da taxa de mortalidade em ambos os grupos foi de 1% - uma queda de 3,2% para 2,2% em dois anos. Ou seja 0,5% ao ano. Portanto, foi a redução do risco absoluto de morte em 0,5% ao ano que gerou a massiva campanha na mídia, que usou a taxa de 16% que é uma taxa projetada/relativa

A mídia não falou dos efeitos colaterais do estudo: alteração das enzimas hepáticas: 3,3%; descontinuação do tratamento durante a pesquisa por efeitos colaterais: 33%.

O estudo J-LIT publicado em 2002, com um desenho muito mais sólido, envolvendo 10 vezes mais pessoas, e três vezes maior em duração, não encontrou qualquer relação entre o nível de queda do LDL e taxa de mortalidade. Não é de se estranhar que esse estudo não tenha encontrado qualquer repercussão na mídia

Pesquisadores do Beth Israel Medical Center in New York City, em 2003, examinaram a placa coronariana em 182 pacientes que tomavam estatina. Um grupo usava doses altas (mais de 80 mg), enquanto outro grupo usava doses habituais. Através do “Electron Beam Tomography” avaliou-se o tamanho das placas antes e depois do tratamento. Apesar da redução do LDL colesterol, não houve diferença entre os grupos. Ao contrário, houve um incremento na ordem de 9,2% no aumento da placa em ambos os grupos (Hecht HS and others. Am J Cardiol, 2003;92:334-336).

Num estudo feito na Cleveland Clinic (REVERSAL, 2004), pacientes receberam Lipitor ou Pravachol. Os que receberam Liptor tiveram uma queda maior de LDL e mostraram uma “reversão” na agregação da placa coronária, avaliada pelo ultrassom intravascular na ordem de 0,4% a partir de 18 meses. O Dr. Eric Topol da Cleveland Clinic como um animador de plateia disse ser tais resultados espetaculares: "Herald a shake-up in the field of cardiovascular prevention ... the implications of this turning point - that is, of the new era of intensive statin therapy - are profound. Even today, only a fraction of the patients who should be treated with a statin are actually receiving such therapy ... More than 200 million people worldwide meet the criteria for treatment, but fewer than 25 million take statins".

Esse tipo de expectativa, absolutamente infundada, levou alguns especialistas a sugerirem colocar estatinas nos reservatórios de água potável das cidades. Já ouvi isso de mais de um cardiologista. Certamente eles estavam ecoando perspectivas como as do Dr Eric Topol. Não devemos mais nos espantar com o delírio intervencionista da medicina da química e da indústria farmacêutica. A criatividade em propor o bloqueio do organismo não tem limites.

Em 2004 a Merck Schering-Plough antecipando-se à perda do direito de patente do Zocor (Simvastatina), começou a desenvolver o posicionamento do Vytorin (Simvastatina+Ezetimibe). Para tal encomendou um estudo esperando provar a eficácia da associação em relação à formação de placa. Usou-se para esse fim a avaliação de placa na carótida. Acompanhou 750 pacientes e o estudo terminou em 2006, e nada de publicação dos resultados. O NY Times moveu uma campanha para pressionar a Merck a divulgar os resultados. Algumas pessoas entraram com ações na Justiça. Finalmente, em Janeiro de 2008 os resultados foram divulgados. Mas, para o desapontamento da Merck o estudo revelou que o Vytorin além de ineficaz produziu o dobro de crescimento da placa carotídea (http://www.merck.com/newsroom/press_releases/product/2008_0114.html)

O New York Times publicou em 14 de janeiro de 2008 matéria sobre o tema. Eis um trecho da material: “Zetia, uma droga para baixar o colesterol prescrita para cerca de 1 milhão de americanos a cada semana não apresentou benefícios médicos de acordo com estudos realizados pela própria indústria Merck e Schering-Plough. Embora a droga tenha baixado o colesterol em 15 a 20%, os estudos não mostraram que o Zetia reduz ataque cardíaco ou derrame, ou mesmo reduz as placas nas artérias. Esse teste clínico que estudou se o Zetia poderia reduzir o crescimento da placa, na verdade revelou que as placas cresceram quase duas vezes mais rápido naqueles tomando Zetia e Zocor do que naqueles que tomaram apenas Zocor. Os pacientes que tomaram Zetia mais Zocor receberam o medicamento chamado Vytorin que é a combinação deles. Especialistas classificaram os resultados como “chocantes”, afirmando que o Zetia só poderia ser prescrito caso outras drogas falhassem. Esses resultados vieram agravar a controvérsia em torno do atraso na divulgação desses dados pela Merck e Schering-Plough. O estudo foi concluído em Abril de 2006, com previsão de divulgação dos resultados em Março de 2007. Entretanto, a companhia não cumpriu os vários prazos assumidos, e só concordou em divulgá-los depois que a mídia passou a cobrar os atrasos. Zetia and Vytorin respondem por 20% do mercado de drogas para o colesterol no mercado americano”.

O jornal O Globo transcreveu a matéria do NYT em 15 de Janeiro de 2008, que diz: “estudo, realizado pelos próprios laboratórios, acompanhou, por um período de dois anos, 720 pessoas com problemas genéticos de alta produção de colesterol. Um grupo tomou apenas uma substância, a simvastatina (Zocor). O segundo grupo foi medicado com as duas substâncias: ezetimibe e simvastatina (Vytorin). O estudo concluiu que o grupo que tomou os dois princípios ativos teve uma redução maior no nível de colesterol, mas não houve diferença no tamanho da placa.”

É interessante notar que a Merck e Schering-Plough escolheram uma data estratégica para a divulgação de dados desfavoráveis – o inicio do ano quando a maioria das pessoas está em recesso de fim de ano.

Os efeitos colaterais das estatinas são muito freqüentes. O FDA a classifica como toxidade IV, após esse nível só as drogas imunossupressoras e as drogas para câncer.

Muitos estudiosos admitem que 100% dos usuários têm algum tipo de efeito colateral, pois a maioria deles seria oculto (assintomático). Dentre os efeitos aparentes mais freqüentes temos: perda de memória e perda cognitiva; dor e disfunção muscular; insuficiência cardíaca; fadiga; neuropatia, anemia; acidose; febre freqüente; catarata; disfunção sexual (American J. Cardiovascular Drugs, 2008;8(6):373-418).

O pesquisador alemão Pfrieger mostrou que a falta de colesterol no cérebro provoca bloqueio sináptico. O colesterol é uma molécula que não ultrapassa a barreira hematoencefálica. O cérebro depende essencialmente da produção de colesterol pelas células da glia que são muito sensíveis às estatinas (Pfrieger F. Science, 9 November, 2001).

David Gaist acompanhou cerca de 116 pacientes em uso de estatina e comprovou um risco de polineuropatia de 16 vezes maior. Esse risco é mais intenso no diabético (Gaist, David. Neurology, 58:1333-1337, 2002)

Dentre os efeitos colaterais menos freqüentes temos: risco aumentado de câncer; supressão do sistema imune; pancreatite, disfunção hepática, rabidomiólise (destruição do músculo estriado) (American J. Cardiovascular Drugs, 2008;8(6):373-418)

Poderíamos classificar, em termos didáticos, os efeitos colaterais das estatinas de acordo com a substância bloqueada, mas geralmente os efeitos tóxicos envolvem vários mecanismos.

Baixa de Esteroides: perda da libido, disfunção erétil, osteoporose, perda de cabelo

Inibição Glial: amnésia focal e global, confusão mental, desorientação, senilidade

Baixa da Coenz Q10: Baixa produção de energia: fadiga crônica, insuficiência cardíaca, retenção de liquidos, dispnéia, mitocondriopatia

Perda da integridade de membrana: hepatite, pancreatite, miopatia, neuropatia, rabidomiólise

Excessiva Oxidação: danos mitocondrial, mitocondriopatia adquirida, neuropatia permanente, miopatia permanente, neurodegeneração

Baixa de Dolicol: riscos de erros na transcriptação do DNA

Disfunção de neuropeptídeos: agressividade, hostilidade, irritabilidade, comportamento homicida, depressão, suicídio.

Alteração da síntese de glicoproteinas: degeneração e lesões do colágeno (tendinites, artroses, etc)

Disfunção em vários processos celulares: identificação alterada da célula, alteração da mensagem celular, defesa imune alterada

Bloqueio da Selenoproteina: neuropatia, deficit cognitivo

Calcula-se o custo do tratamento com estatinas, em doses habituais, entre 900 e 1.400 US$ por ano. As estatinas já são a categoria de medicamento mais vendida no mundo (6,5%); significa um faturamento US$ 12,5 bilhões/ano (2004). O uso de estatinas aumentou 156% entre 2000 e 2005. O número de usuários passou de 15,8 milhões para 29,7 milhões . O gasto passou de 7,7 bilhões de US$ para 19,7 bilhões de US$, embora mais de 900 estudos tenham sido publicados mostrando a toxidade dessa droga e sua baixíssima eficácia.

No melhor resultado pró estatina até hoje publicado o “WOSCOP clinical trial”, patrocinado pela indústria farmacêutica, a redução do LDL significou uma redução da taxa de mortalidade em 5 anos de 0,6%, ou seja, 165 pessoas saudáveis deveriam ser tratadas por cinco anos para se estender a vida de apenas uma pessoa por outros 5 anos. O custo dessa vida seria por volta de US$ 1,2 milhões. Num cálculo otimista, o custo para salvar um ano de vida de uma pessoa com DC seria de cerca de US$ 10 mil.

Em suma, a estatina, pelo seu potencial tóxico e pela sua baixa eficácia, é talvez uma das drogas mais non sense do arsenal terapêutico da medicina atual. Ao invés de ser deixada de lado pelos médicos, tornou-se a droga mais vendida e a categoria farmacêutica de maior faturamento. Como se pode notar, há algo de muito errado com essa medicina.

A insistência na tese lipídica ao longo de mais de 60 anos não conseguiu convencer os estudiosos éticos da alimentação humana. A medicina centrada na doença que pouco sabe sobre a alimentação e sobre os grandes processos que mantêm a vida no organismo, tornou-se uma presa fácil do public relation da indústria farmacêutica. Estamos diante de um grande “conto do vigário”, que repetido a exaustão, ilude o ouvinte e passa a ser real. O colesterol deixa de ser a substância estratégica para o funcionamento do organismo e passa a ser o grande vilão do adoecimento humano. Você acredita nesse conto?

Referências:

  1. Ravnskov, U : "The Cholesterol Myths"
  2. Colpo, A : "The Great Cholesterol Con" . 2007
  3. Hartenbach W: "Die Cholesterin-Luege" 2006
  4. Kendrick, M. “The Great Cholesterol Con”. 2007
  5. Ellison, Shane. “Hidden Truth about Cholesterol-Lowering Drugs”
  6. Graveline, Duane. “Lipitor: Thief of Memory and Statin Drugs”. 2006
  7. Graveline, Duane. Statin Damage Crisis. 2009